Não são só os poetas que precisam de inspiração na hora de compor os seus versos, os declamadores também buscam uma fonte da onde possam tirar as suas inspirações para o momento de interpretar os poemas.
Eu, particularmente, me inspiro olhando o campo, sentindo um ar puro, olhando pro azul celeste. Nada como ter uma boa paisagem para elevar a sensibilidade de um declamador.
Já declamei em muitos lugares, os meus favoritos são ao ar livre, onde posso ver o campo e imaginar a história interpretada acontecendo na frente dos meus olhos, nesse mesmo campo.
Essa imagem é uma boa fonte de inspiração, divido-a com vocês!
Nesses sites abaixo, poderão encontrar mais imagens como esta.
Eles me interditaram... Afastam-me das domas, Não me deixaram usar adagas, Nem, sequer, cuidar do fogo... E conspiram contra mim Com silêncio e solidão.
Pois alegam, uns aos outros, Que me tornei perigoso Desde quando me encontraram Conversando com as ovelhas, Desde quando descobriram Que eu cultivo girassóis Por devoção às abelhas.
Dizem que ando variando Com milongas circulares Na canção dos cataventos, Que fiquei de miolo mole e me desfiz das esporas Por ter pena dos cavalos...
Proibiram-me transpor Os limites da porteira Numa espécie de desterro Que me exila na querência. Mas, eu sei que eles não sabem Que os olhos de quem sonha Vêem além dos horizontes...
Eles dizem que sou louco Porque vago pela estância Conferindo cada ninho Onde os voos eclodiram, Fazendo tenda do pala sobre o topo das coxilhas Pra navegar nas estrelas Nessas noites de verão...
(Imagina se soubessem que eu carrego, nos pessuêlos, uma colméia de versos...)
Mas enquanto eles proseiam Agrupados no galpão, Para encantar meu silêncio O vento canta pra mim, As sangas cantam pra mim, Os grilos cantam pra mim.
Enquanto eles, que se julgam certos, Tomam mates sonolentos Com a água da cacimba. Eu, numa cambona de açude, Sorvo a lua num porongo E povoo a solidão Com as ausências que me habitam.
Eu embrulho a palavra Numa folha de papel Onde guardo traduções de ocasos e auroras, Onde exponho meu silêncio Com zumbidos de abelha E confesso a ternura Que dedico aos que me odeiam.
Eu trabalho mais que eles. Sou só um nas sesmarias Pra saber de cada flor, Pra saber de cada pássaro Com que o campo sinaliza E os outros não percebem...
Eles, sequer, reparam Quanto sol de cada dia Se acumula nas laranjas, Que porção de lua cheia Se derrama em frenesí Na gestação da semente. Eu, sim, eu sou livre entre o campo e as estrelas, Eu sei todos os caminhos que a querência me revela Porque vivo além de mim O que a vida me concede.
Mas, se louco é ser dono de si mesmo E saber que as laranjeiras Choram lágrimas de pétalas Num cio vertiginoso De excessiva floração, É ter consciência plena Que a loucura é a poesia Que, por não caber do peito, Se extravasa em dialetos E ilumina seus eleitos:
Então eles estão certos: Eu sou mesmo perigoso, Uma ameaça constante De povoar o galpão Com guitarra e ar-iris, E abelha, e girassol.
Não, não é a mim que eles temem Porque sabem inofensivo Meu delírio musical... O que eles não suportam É aceitar a realidade De um louco ser feliz.
No próximo post coloco a versão masculina, que também é muito emocionante e muito declamada nos rodeios.
Bons versos!
LOUCA Vaine Darde
Louca? Por que será que sou louca? Será porque ando lendo Tantas sílabas de lua nos versos dos pirilampos, que decifro pelos campos pra ser trova em minha boca?
Ou, nas noites de verão bordo luar no vestido, ponho estrelas nos cabelos, em estranhas atitudes... Ao banhar-me de poesia no céu que fica invertido cintilando refletido nos espelhos dos açudes?
Louca? Por que será que sou louca? Será porque me interno num mundo de fantasia entre o horizonte e o galpão? ou, pelas manhãs de inverno, sou a noiva abandonada arrastando nas canhadas, o seu véu de cerração?
Ou porque quando amanhece Abro os olhos e a cancela pra deixar entrar o sol... E enquanto a manhã se cora me emolduro na janela sorvendo a luz da aurora num mate cevado a gosto com jujo do arrebol?
Louca? Por que será que sou louca? Porque envolta em lonjuras deliro com a ternura da primavera rural? Ou porque, quando me encanto, adormeço ouvindo o vento declamar no cata vento estrofes de temporal?
Talvez seja pelo fato de povoar a solidão com lembranças de alguém... Ou de andar gastando a vida sendo a moça prometida desse moço que não vem... Por bordar um enxoval com lágrimas e esperança ou enxergar com alma o que os olhos não vêem...
Eu até posso ser louca por ter crises de ternura quando tantas criaturas declinaram de seus sonhos e só vivem por metade por achar que a realidade só transita no visível... Pois há muito me disponho a encantar os infortúnios vivenciando os plenilúnios, sobre as flores dos lençóis, nos meus sonhos de menina quando a lua se ilumina pra acordar os girassóis
Louca? Será que me dizem louca pelo doce desespero de perseguir o cincerro que bate no coração? Ou nunca fechar a porta a esperar quem não volta com arco-íris nos olhos e margaridas nas mãos?
Ah, o amor é um luzeiro que toda vez que alumbra traz o céu para a penumbra pondo estrelas no candeeiro. É encontro e desencontro numa ausência tão presente que faz a vida da gente viver na vida do outro. Estabelece critérios e tira a gente do sério por seguir o coração... É transpor o concebido ao encontar um sentido para perder a razão.
Não sei se perdi o tino ou se foi que me encantei de amor em desvario? Só sei que nas noites claras a loucura me ampara e vejo o que ninguém viu: enquanto o céu chove estrelas a lua dança no rio...
Pode ser que eu seja louca mas tenho cá minhas causas... A vida é bela e tão pouca pra viver presa “nas casa”. Pois quando ando no campo e vou além da porteira, o meu olhar com goteiras se acende de pirilampos...
Louca? Concordo que seja louca porque invento quimeras na crença dessas esperas que chegam ao sol se pôr... Porém prefiro sofrer desta loucura sadia que encanta de poesia e enche o mundo de cor, do que passar pelos dias sem conhecer a magia que enlouquece de amor!
Estive pensando quando foi a última vez que concorri na declamação, e me dei conta que já vai fazer 2 anos que não subo num palco para declamar. A última vez que concorri foi em Janeiro de 2009 no 21º Rodeio Nacional de Caxias do Sul onde obtive a terceira colocação. Lembro-me muito bem desse dia, borboletas no estômago, friozinho na barriga, a família toda reunida para assistir, amigos torcendo. Que saudades disso tudo, como é bom ver as pessoas que tu ama te prestigiando, te apoiando e torcendo por ti, né? Acho que isso já é uma recompensa por todo o nervosismo que se passa antes de um concurso. Não sei vocês, mas eu fico sempre muito nervosa, parece que sempre é a primeira vez que vou declamar. Esse post é para eu recordar dessa fase tão marcante, desses momentos que me encheram de alegria e que fizeram aumentar cada vez mais essa minha adoração pela arte de declamar o Rio Grande do Sul . Aqui eu recordo com vocês esse poema que tanto me encanta"Um certo tropeiro Lua Nova" de autoria de Guilherme Collares. Espero que gostem!
Uma das dificuldades de quem declama é encontrar poesias novas. É lógico que eu não dispenso um bom e velho livro de poesias, mas como a internet veio pra facilitar a nossa vida, também podemos encontrar bons versos que estão disponíveis na rede. Gosto muito desse site que apresenta diversos poemas listados em ordem alfabética por autor. Sempre temos um autor com quem nos identificamos mais, não é mesmo? Bueno, ali poderão conhecer mais trabalhos que podem ajudá-los na busca de um novo verso para dar aquela renovada nas apresentações. Eu particularmente, não gosto de mudar de poema em tão pouco tempo, acredito que é necessário conhecer bem a poesia, trabalhar em cima dela para que a cada apresentação ela não se repita na interpretação mas traga sempre algo a mais para mostrar que técnica é necessário na arte declamatória mas que sem sentimento de nada adianta. A declamação não pode ser fria, com gestos calculados e/ou decorados, com a interpretação copiada, a declamação pede autenticidade, envolvimento, sensibilidade, é o momento onde a alma se expressa. E, bem, cá entre nós declamadores, nós sabemos e sentimos, quando um verso já deu o que tinha que dar, não é verdade? É exatamente nessa hora que devemos dar uma inovada e renovar o repertório. Bons mates!
Nesse fim de semana passado aconteceu em Santa Cruz do Sul a 25ª edição do ENART. Eu que quase nem gosto de tudo isso, estive presente nesse que é o maior festival amador da América Latina. Pude ver velhos amigos, me emocionar com os grupos de danças e me encantar com as declamações. Como estava fazendo a cobertura dos bastidores do CTGLanceiros de Sta Cruz, infelizmente, não consegui ver as apresentações das prendas como tanto queria, mas para compensar vi os peões que não deixaram por menos e deram um show de interpretação e sentimento.
A declamação se faz presente em minha vida desde os meus seis anos. Meu pai foi quem me ensinou os primeiros versos de uma poesia chamada "Pealo da saudade", a qual me recordo muito bem inclusive da minha primeira apresentação no palco do CTG Rodeio Minuano, Caxias do Sul, onde meu primo comemorava seus 18 anos em uma festa bem gaúcha. Após essa apresentação comecei a participar do CTG, e, aos poucos, fui decorando outros poemas, me apresentando, concorrendo em rodeios até que veio o primeiro troféu, de segundo lugar, mas que pra mim parecia ser de primeiro, tamanha a felicidade que senti. Participei deste e de muitos outros rodeios, participei do CdProjeto Memória Viva do Galpão (poemas infantis interpretados por crianças) do poeta Lauro Teodoro. Encontrei muitas pessoas nesse caminho e fiz muitas amizades.
Foi assim que iniciou essa minha paixão pela arte declamatória, hoje não participo ativamente dos concursos de declamação, motivos? A falta de tempo e a vida adulta imperando suas obrigatoriedades. Mas não coloquei um ponto final nessa história, tenho muita vontade de voltar aos palcos simplesmente pelo prazer de declamar. Mantenho vivo esse sentimento que tenho por essa arte. A declamação vai muito além de interpretar um poema. Viver a história que o declamador conta, e o mais importante, levar todos os que o escutam/assistem pra dentro dessa história, fazê-los ver essa mesma história que o declamador vê quando interpreta, fazê-los crer, em cada palavra que o declamador diz e por consequência, fazê-los sentir toda a emoção que o declamador sente. Isso sim é declamar, é viver a poesia, é ver o que se fala, é se incluir em cada verso.
Algo que apenas quem vive esse momento entende essa fortaleza de sentimentos que transborda a medida que o poeta escreve as suas emoções através de versos e estrofes e o declamador da vida ao poema através da sua sensível interpretação. É, acho que esse blog vai servir para eu matar a saudade dessa fase tão incrível que vivenciei através da declamção que me fez: "Prenda Farroupilha"e " Prenda Gaúcha"; me fez entender cada Maria, através do poema "Das Marias que ficaram", como também sobre o "FaustinoTropeiro"; "Ofício de Mulher" foi um presente muito bem vindo, me fez ver/sentir a força e a sensibilidade da mulher gaúcha; "Romance da Mulatinha"tão triste e tão forte, me fez crescer na declamação assim como os medos que o "Aqui estou Senhor Inverno" me fizeram enfrentar, e, por último,"Um certo tropeiro Lua Nova" que enche meu coração de saudades e, por isso, dispensa comentários. Aqui vocês encontrarão, caros leitores e apreciadores da arte declamatória, um pouquinho desse universo que encanta e contagia a todos. É, o Pealo da Saudade está de volta em minha vida, ou melhor, sempre esteve, talvez eu é quem não tenha percebido.
Natural de Caxias do Sul hoje radicada em Sta Cruz do Sul, Prenda, declamadora, amante da arte declamatória orgulha-se das tradições gaúchas e do seu Rio Grande do Sul. Estudante de jornalismo, apaixonada pela futura profissão.
Marluci, a que sonha com os pés no chão e batalha pelos seus objetivos!